3 de novembro de 2010

Triste dia de finados


Terça-feira, 2 de novembro. Feriado de Finados.

Um dia de sol, água limpa e transparente. Um dia lindo para homenagear as pessoas queridas que foram desta para uma melhor. Meu dia começou cedo e fui surfar. Depois de duas quedas, uma delas bem demorada, passei na Praia da Vigia para lançar ao mar algumas flores, cheias de saudade, dedicadas a pessoas muito queridas que se foram.

Cheguei em casa exausto, mas feliz.

Até ligar a internet.

MORRE ANDY IRONS, O GRANDE CAMPEÃO DE SURF

A primeira notícia caiu como uma bomba: Andy Irons morreu. Parecia pegadinha, trote ou algum vírus de computador. Um dos maiores e melhores surfistas do mundo, o único cara que não se rendeu a dinastia Slater, um havaiano que surfou como ninguém as maiores e mais perigosas do mundo, noticiado como morto pelo mosquito da dengue. Não podia ser verdade. Andy era novo (32 anos), forte, um atleta de alto desempenho. Não fazia sentido.

Andy Irons sempre colocou muita paixão em tudo o que fez. Sua atitude, sua técnica, seu estilo e seu power surf o colocaram num patamar nunca antes alcançado. Andy foi tão bom, que motivou Kelly Slater a voltar a competir. Aliás, os dois foram grandes rivais. A mídia surf adorava ressaltar essa rivalidade. Enquanto Kelly era o mocinho, Andy foi o “bandido” sedutor e talentoso. Um matador nato! Por 3 vezes campeão mundial de surf pela ASP, Andy significou muita coisa para muita gente: foi competidor, foi ídolo, foi marido, foi um monstro e foi um ícone. Poucos surfistas na história tiveram tanta força e tanto poder como o havaiano A.I., que influenciou de maneira muito forte o surf mundial. Sua carreira foi meteórica até que em 2009, Andy se afastou do tour devido a um suposto problema com drogas. Ele queria colocar a cabeça no lugar e recuperar seu foco.

Hoje, 3/11/2010, uma noticia de que teria sido encontrado em seu quarto alguns remédios a base de methadone. Segundo os profissionais da saúde, uma medicação errada pode piorar ainda mais o quadro de uma pessoa doente. Mas enfim, ainda não sabemos o que realmente aconteceu, só sabemos que essa perda foi muito grande. A notícia ainda dói. Principalmente sabendo que Andy deixa sua mulher Lyndie grávida de 8 meses.

A segunda notícia me deixou muito triste, e muito indignado.

MORRE MAIS UM SURFISTA EM REDES DE PESCA NO RIO GRANDE DO SUL

Thiago Rufatto, 18 anos, foi o 49° surfista morto em redes de pesca no Rio Grande do Sul.

Desculpem o desabafo, mas PQP!! 49 pessoas mortas e ninguém faz nada???

Que governo é esse que aceita que pessoas jovens, de bem, que saem alegres para pegar algumas ondas e fazer um esporte sadio e popular, morrem em redes de pesca que ficam abandonadas na praia???? Que políticos são esses??

E vocês sabem por que? Porque os pescadores se organizam, mostram quantos votos representam e, assim, convencem nossos políticos a deixar as redes na praia. Parece surreal, mas é verdade.

Surfista não é peixe, e não pode ser pescados e mortos por redes de pesca. Isso é bizarro, é primitivo, e é um crime contra a vida de pessoas inocentes. Os pescadores e as cidades litorâneas podem e devem ser processados e punidos por isso. Pescar e matar gente não é pesca, é assassinato.

A prática de pescar com redes de calão é arcaica, antiga e ultrapassada, onde os pescadores cravam um calão (um pedaço de madeira) na praia, e jogam suas redes ao mar, na zona de arrebentação, e as amarram nesse calão na areia. Depois vão pra casa, ver TV, enquanto as redes ficam esticadas por dias e acabam matando pessoas inocentes.

Segundo pesquisas realizadas pelos surfistas, 99% de todos os pescadores que pescam com rede de calão não são profissionais da pesca. Eles tem outras atividades e não sustentam suas famílias exclusivamente da pesca.

Eu já fui em passeata, já fui na assembléia legislativa do RS e em diversas reuniões com surfistas, empresas e entidades, e posso lhes dizer; a briga é injusta e os resultados idem.

Primeiro, porque os surfistas são incapazes de se organizar e mostrar quantos votos representam. Na grande maioria, são pessoas egoístas, que só querem pegar suas ondas (ou tirar onda) e que não lutam nem pela saúde de suas praias e nem pela segurança do seu esporte. A verdade é essa, doa a quem doer.

Enquanto os pescadores mandam representantes de cada região do estado, com pastas contendo a quantidade de votos diretos e indiretos gerados pela tribo dos pescadores, da tribo dos surfistas aparecem uma meia dúzia super bem intensionada, mas incapaz de vencer a organização dos pescadores. Alguns nem se expressar direito sonseguem.
É quase a história da formiga e da cigarra. Um grupo trabalha e se garante (os pescadores) e o outro fica só tirando onda e no final se fode (os surfistas).

E aqui eu não falo da entidade FGS ou das pessoas que estão indo na Assembléia. Essas pessoas brigam pelo surf e pela nossa segurança a muitos anos. São guerreiros e são heróis. Eu falo é da grande massa do surf: os surfistas, o mercado, as empresas. Cadê o esforço conjunto?
Eu respeito demais o trabalho incansável dessa galera que luta para acabar com essa prática (Virgilio Panzini de Matos, Orlando Carvalho – FGS e a galera do surf seguro), mas ainda precisamos de mais representação (Número de votos) na mão dessas pessoas para finalmente extinguir essa prática assassina de nossos mares. Sem isso, nossos guerreiros ficam desarmados diante do arsenal de votos trazidos pelos pescadores. Não queremos áreas de surf, queremos o fim dessa atividade sem sentido e assassina.

Porque vamos ser sinceros, delimitar áreas de surf e de pesca não adianta nada quando temos um litoral de mar aberto e com fortes correntezas. No litoral gaúcho, num dia de mar grande, com vento sul e swell de sul, você pode facilmente atravessar diversas áreas e até passar por várias diferentes praias, sendo levado pela corrente marítima. Lá no outside, ninguém consegui enxergar o pedaço de pau cravado na areia (que delimitam a áreas de surf, banho e pesca). e nem consegue sair do mar a tempo de chegar numa área de risco, pois os surfistas são arrastados pelas correntes.

Vale lembrar que as redes de pesca no litoral do Rio Grande do Sul são as responsáveis pelo maior índice de mortes relacionadas ao surf. Mais do que tubarões, ondas gigantes ou corais afiados ao redor do mundo.

Mas enfim, paro por aqui porque a tristeza é grande. E a indignação também.

Mas fica a mensagem: Ou nos organizamos, ou vamos continuar perdendo essa guerra para os (pseudo) pescadores.

Esse dia de finados foi realmente um dia muito triste para o surf gaúcho, brasileiro e mundial. E por isso estamos de luto.

Dadá Souza
SurfOnLine

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