1 de agosto de 2012

O Surf nas Olimpíadas



Nessa semana de Jogos Olímpicos em Londres, muito se tem falado na internet sobre a participação do surf nas Olimpíadas. A grande maioria dos posts e matérias que vimos na internet são de entusiastas da idéia. São pessoas que querem ver o surf no glamouroso mundo do Comitê Olímpico Internacional e seus investimentos pesados no esporte. Inclusive já existe um movimento para que se coloque o surf nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o "Rio 2016 — Surf nas Olimpíadas”, que já reúne mais de 15 mil assinaturas no site riosurf2016.com.

Talvez a idéia seja mais um sonho antigo dos surfistas, que gostariam de ver seu esporte devidamente reconhecido, respeitado e com grande cobertura televisiva do que um ganho realmente positivo para o surf como um todo. Calma, eu explico.

Há algum tempo atrás, almoçando com o Edinho Leite (na época editor da Revista HardCore) e com o Bira Schauffert (presidente do Grupo Salva Surf) antes da palestra do Edinho no II CONGRESSURF, entramos no assunto evolução do esporte e inevitavelmente paramos no ponto "Olimpíadas". Já naquela época, 2008, Edinho nos falava sobre o quanto a inclusão do surf nas Olimpíadas poderiam afetar o nosso esporte. Depois de escutar os argumentos do Edinho, mudei minhas opiniões sobre o assunto.

Desde bem jovem eu sempre quis ver os surfistas nas Olimpíadas. Era um sonho antigo.  O surf era moderno, radical, popular, saudável, com alto impacto visual e muito mais legal como esporte do que muitas das modalidades que estão hoje nos Jogos Olímpicos. Mais do que justo, colocar no surf era dar um pouco mais de graça para as Olimpíadas. Mas hoje, sinceramente, acho que só seria uma boa idéia se alguém inventasse uma piscina de ondas boa o suficiente para ser surfada e reconstruída em todos os países sede das Olimpíadas. E mesmo assim, isso seria surf? Seria verdadeiro e intenso como o surf de verdade ou seria um novo esporte, mais robotizado e burocrático?

É claro que por um lado, a inclusão do surf elevaria o patamar do nosso esporte a "esporte olímpico". Nossos surfistas competiriam por medalhas, a grande mídia televisiva transmitiria o  surf para todo o mundo, com cada manobra sendo mostrada por dezenas de câmeras e as verbas e investimentos na estrutura do esporte melhorariam 500%. Seria um ganho e tanto para o gigantesco mercado do surf. Algumas marcas e alguns dirigentes sonham com isso. Mas a verdade é que o surf sempre foi um esporte livre por natureza. Não são os homens quem definem o melhor momento para o surf, são as ondas. E tudo gira em torno das ondas. Sempre foi assim. Mais do que atletas, somos surfistas.

Algumas pessoas alegam que colocar um esporte livre como o surf nas mãos do Comitê Olímpico Internacional, um grupo que mesmo sem entender muito do nosso esporte, vai mandar e desmandar, atropelando toda a história e a cultura do surf, seria um erro fatal, que acabaria com a alma do nosso esporte. Aliás, há quem diga que a grande força do surf é justamente o fato desse esporte se manter como radical e alternativo, onde a atitude, o desafio e o estilo de vida contam muito mais do que medalhas e pontos. 

E se o surf acontecesse em piscinas com ondas? Queremos ver malabaristas em piscinas com ondas ou surfistas desafiando ondas como Pipeline, Teahupoo, Jeffrey´s Bay, Fiji, Bells, etc? Sinceramente penso que o surf não se encaixa tão bem nos jogos Olímpicos. Talvez o surf, assim como o skate, a bmx e o snowboard se encaixem melhor nos X-Games, por exemplo, do que nas Olimíadas. Ou não?  Tenho para mim que os X-Games já são as olimpíadas dos esportes radicais.

Talvez a única vantagem de termos o surf nas olimpíadas seria termos um julgamento mais preciso, mais confiável e menos tendencioso. E talvez com um formato um pouco diferente dos eventos da ASP, tão desgastado.  

E falando nisso,  nosso esporte teria que sair das mãos controladoras da ASP, a atual "dona" do circuito mundial, para trer uma nova organização do esporte, com federação e confederações filiadas ao Comitê Olímpico Internacional (COI) em pelo menos o  dobro de países que temos hoje. Ou, o menos provável, o COI se junta com a ASP, a  entidade mais forte do surf, para tentar colocar o surf nos jogos Olímpicos. A nossa Confederação Brasileira de Surf (CBS), está bem organizada e já é filiada ao COI, mas não tem força política para tanto. O mesmo parece vale para a ISA, que mesmo com toda luta, vontade e representatividade, ainda não tem o peso da ASP.

Apesar do sonho ser antigo, a verdade é que para o surf realmente entrar nas Olimpíadas, precisamos de muito mais organização, de mais força política, de entidades competentes e credenciadas e de mais países envolvidos seriamente com o esporte. Um dia quem sabe.

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