21 de maio de 2013

O artigo deletado do Surfline


Para quem não viu, o 'aclamado" site Surfline publicou um artigo pra lá de preconceituoso falando da atuação dos brasileiros no WT do Rio. Um artigo tão pobre e tão ridículo, que foi deletado do site em menos de 24 horas após a sua publicação. Felizmente essa matéria escrita por um indivíduo de idéias pobres, não escapou dos olhares atentos da galera do Inertia. E assim se vão anos e anos de puro preconceito em relação aos que não são americanos, havaianos ou australianos no tour da ASP. É triste, mas é verdade.
Quem quiser, pode ler direto no site da Inertia: http://www.theinertia.com/business-media/a-deleted-article-and-the-harmful-misrepresentation-of-brazilian-surfers/


A Materia que foi Excluída e os Perigos da Má Interpretação Sobre os Surfistas Brasileiros
Terça-Feira, 21 de Maio, 2013


Se você estava conectado como eu ao site Surfline.com ontem à noite para ler a cobertura do último dia do Billabong Rio Pro, você deve ter ficado surpreso ao encontrar uma estranha matéria sobre o comportamento dos surfistas brasileiros no campeonato. 

A matéria escrita por Matt Pruett se mostrou tão incendiária que logo foi retirada do site ontem à noite mesmo após os fóruns de discussão terem bombado com comentários condenando a mesma. Nas legendas, há uma nota: Nota do Editor: Após avaliar o feedback dos leitores, por deliberação interna, decidimos que a melhor maneira de contar a história da vitória de Jordy no Rio é com fotos e legendas. Fique atento para o próximo Power Rankings do Surfline relatando o desempenho individual de cada atleta do evento.

Claramente, algo estava estranho. Deixe-me explicar. Talvez o mais impressionante sobre a matéria, foi a maneira como ele tentou mascarar o preconceito fazendo uma analogia; bom policial / mau policial, primeiro, reconhecendo e abominando os estereótipos, para então autilizar os mesmos velhos estereótipos para justificar seus argumentos. Esta não éra uma matéria investigativa destinada a instigar as verdades duras ou o debate aberto. Os argumentos exigiriam um conhecimento da cultura e da história brasileira, assim como a maneira que funcionam estes estereótipos. Dito isto, não se pode qualificar a matéria como "racista" até porque "brasileiro" não é uma raça e sim uma nacionalidade. Esta retórica é impensada e discriminatória, proveniente do imperialismo cultural que (intencionalmente ou não) serve para demonizar uma classe ou tipo de pessoas, enquanto sutilmente justifica e valoriza outra. Eu não vou desperdiçar vosso tempo detalhando cada falsa acusação que Pruett fez, mas eu gostaria de destacar o que está escondido nas subliminares. Na matéria, ele pergunta retoricamente: "Então, por que os brasileiros têm tanta dificuldade em enterrar os estereótipos?" Pruett passa a responder à sua própria pergunta, descrevendo a forma como alguns surfistas se comportaram no último dia do Billabong Rio Pro.

Existem dois níveis de raciocínio falso neste argumento. O primeiro é que a responsabilidade recai sobre os brasileiros de alguma forma por quererem sempre provar aos outros que merecem respeito e valores iguais - presumivelmente Pruett e os outros literarios do surfe na América e na Austrália - os consideram como uma classe diferente da deles sem achar que isso seja um estereótipo. A segunda é a que determina que seria humanamente possível qualquer indivíduo estar isento de estereótipos. A definição de um estereótipo é; uma generalização grosseira com base em uma falsa correlação entre comportamento e biologia. Um indivíduo não pode provar nada com base em uma generalização (que é feita sobre o coletivo) nem pode provar ou refutar algo que é baseado em uma falácia. Pruett realmente se mostra quando escreveu que Adriano de Souza foi o "surfista mais comportado e humilde na praia." Então, por que esse comportamento não desmente seu próprio estereótipo? Porque, para aqueles fixados em suas crenças, sempre haverá casos que eles possam utilizar para justificar sua visão de mundo. Filipe Toledo e Gabriel Medina, por exemplo, não surfaram e não se comportaram nos níveis exigidos de contenção protestante e subserviência que Pruett esperava de alguém que não seja de Orange County, Sydney, ou de outras cidades de surfe da costa leste Americana. Preconceito, você vê, é como acreditar na existencia do Abominavel Homem das Neves. 

Não importa quantas evidências existam de que esse ser não existe, os verdadeiros crentes sempre irão encontrar "provas" que possam apoiar suas ilusões, porque eles querem encontrá-las a qualquer custo. Cientistas que conduzem experimentos, a fim de obter um conjunto de resultados desejados são chamados de charlatões. A parte que realmente féde de tudo isso é o duplo padrão aparentemente inconsciente utilizado para descrever os brasileiros. Quando Gabriel Medina surfa em sua bateria com um fervor competitivo a la Slater, ele é rotulado como muito ansioso e desrespeitoso. Quando Felipe Toledo exibe paixão e competitividade, que nos remete ao saudoso Andy Irons, ele é então considerado banal e pomposo. A questão não é o que os brasileiros dizem ou não dizem, é que, em vez de serem consideradas reações individuais de cada atleta, as reações são vistas e fortemente implícitas como sendo "o comportamento brasileiro." Se você assistir a qualquer uma das baterias do Billabong Rio Pro que ainda estão disponiveis on demand no site da Billabong, fica notável que esses argumentos são categóricamente falsos. Estou tão cansado de ouvir sempre a mesma velha conversa sobre os brasileiros e por que eles supostamente agem de determinadas maneiras. Minha teoria é que o assunto é muito menos sobre o comportamento real de muitos brasileiros e muito mais sobre o medo, frustração e desilusão dos criadores de opinião do mundo do surfe que estão testemunhando o esporte que amam tanto, passar por uma forte revolução gerada a partir de sua própria explosão demográfica. Vocês devem perguntar por que eu estou escrevendo uma critica tão dura e detalhada sobre uma matéria que relatava o comportamento brasileiro e que já foi excluida do site. A razão é que, independentemente da matéria de Pruett estar publicada em um site de renome ou arquivada em alguma pasta velha de seu computador, as idéias contidas nele, há muito tempo vem infectando o mundo do surfe. 

O fato ainda mais grave, é que o artigo de Pruett chegou a ser publicado. Não podemos esquecer que essas idéias flutuam entre todos nós. Nós não podemos erradicá-las ou apenas reconhecê-las como meia verdade. Temos que nos erguir como sociedade, como muitos já o fizeram em fóruns do Surfline, e deixar claro que não vamos tolerar mais isso. Eu não tenho nenhuma ligação pessoal com os brasileiros, alem da sensação de que todas as vezes que pessoas de pele escura e traços "étnicos" participam de um evento dominado por uma cultura de tez mais clara "anglo-saxonica", prevalece sempre uma olhar suspeito, uma ar hostil e preconceituoso ondeem cada advertência, esconde-se o pressuposto de que, com base em minhas características biológicas inatas, eu não pertenço a este grupo. 

Cada vez que um brasileiro é criticado por alguma violação arbitrária de regras de conduta veneráveis como: ser muito expressivo, ou competir com demasiada paixão, eu ouço um unico discurso: "Você está praticando o nosso esporte, e você terá que se submeter a nossas regras." Se Pruett e Surfline realmente acreditam nisso, e se tiverem retirado o artigo de Pruett apenas para se livrar de maiores problemas, enquanto eles ainda realmente apoiam as ideias subjacentes, então essa conversa se encerra aqui. 

Ninguém nunca mais vai mencionar brasileiros na Surfline novamente, e a cultura vai manter sua atual cepa de surdo fanatismo. Mas se eles realmente não endossam a questão, e eu gostaria de acreditar que realmente eles não a endossam, então terão a oportunidade de iniciar um diálogo real. Talvez com um pedido de desculpas. Todos estão sucetiveis a erros e acertos, mas já é hora dos formadores de opinião do mundo do surfe se levantarem denunciarem a intolerância.

Traduzido por: Isaac Achê 



Eis aqui a matéria original do Surfline, enviada pelo nosso amigo Vinicius maciel






3 comentários:

  1. Aliás, uma pergunta que a muito me incomoda, o Hawaii é país ? Até onde eu estudei o Hawaii era um estado americano...

    ResponderExcluir
  2. Esse é um assunto quase tão polêmico quanto a gente falar sobre o tamanho das ondas. A verdade é que o Hawaii é sim um estado americano, mas no mundo da ASP, por mais incrível que pareça, o Hawaii é tratado como se fosse um outro país, e os atletas são separados, Kelly Slater por ezemplo, sempre aparece como Kelly Slater (USA) enquanto Seabass sempre aparece como Sebastien Zietz (HAW). Até na hora de contar os títulos mundiais de cada país, a ASP coloca de forma separada os havaianos do restante dos americanos. Coisas da ASP...

    ResponderExcluir
  3. Uma típica visão americana. todos são errados, só eles são os certos.

    ResponderExcluir