18 de setembro de 2013

Baterias polêmicas



Por: Dadá Souza

Antes de falar sobre um evento de ondas minúsculas, ruins e com um julgamento que ninguém consegue entender, pois os critérios e as escalas mudam demais (principalmente dependendo de quem está na água), quero falar que mesmo acompanhando o surf profissional e os campeonatos há mais de uma década, eu não sou juiz e (pelo jeito) não entendo muito de julgamento. Acabei de rever muitas baterias pelo ON DEMAND e gostaria de perguntar aos juízes da ASP algumas coisas: Se é que existem critérios sérios no julgamento da ASP.

Foram muitas as baterias que chamaram a atenção por seus julgamentos imprecisos ou esquisitos. Vou publicar aqui para ver se alguém consegue explicar.

ROUND 2
FREDRERICK PATACCHIA (17.43) x  MIGUEL PUPO (13.74)
Freddy P abriu a bateria com uma boa direita, executou uma excelente primeira manobra, uma chinelada com força no lip, seguida de duas manobras fracas e finalizou com uma batida na junção. Patacchia marcou 8.50.
Miguel Pupo fez sua 1ª nota em uma esquerda bem pequena, deu um floater funcional, embalou e mandou um aéreo rodando muito alto, que por sinal é uma manobra que o Patacchia talvez nem saiba executar em tais condições, e ganhou 6.87.
A segunda onda do Freddy P, o havaiano executou quatro rasgadas de backside em uma direita da série, todas mais burocráticas do que talentosas e finalizou com uma batida na junção e ganhou 8.93.
Na última onda do Miguel Pupo, a brasileiro desferiu 7 manobras. Começou com um floater e sem perder velocidade, uma rasgada invertendo toda a prancha,  na sequencia um tail slide 360, 3 manobras insignificantes e finalizou com um segundo tailside 360 na areia, uma onda que deveria valer pelo menos 2 pontos a mais do que a segunda onda de Patacchia. Mas ganhou 6.87.
O que foi valorizado nessa bateria? O tamanho das ondas? Voltamos aos anos 80 onde rasgadas de backside ganham de manobras progressivas? Que critério os juízes usaram para julgar essa bateria? Acho que não entendi o  julgamento. Miguel Pupo foi mais criativo, mais ousado, mais progressivo e usou um repertório de manobras maior, mas perdeu a bateria e a vaga para o Round 3.

ROUND 3
CJ HOBGOOD (15.30) x GABRIEL MEDINA (14.87)
Medina abriu a bateria com uma direita bem pequena, mas que rendeu 7 batidas de backside e uma rasgada. Medina foi até a areia, finalizando a onda com uma batida na junção e ganhou uma nota 8.
CJ deu sua resposta na onda de trás, surfou mais lento, com um approach menos radical e mais burocrático e ganhou uma nota 7.50. Muita gente achou que essa onda deveria valer pelo menos um ponto e meio a menos, mas os juízes valorizaram.
Medina em sua segunda onda escolheu outra direita bem pequena, mandou 4 batidas de backside, a segunda delas não muito limpa e finalizou a onda com um tailslide de backside. Ganhou 6.87.
Nessa hora CJ Hobgood deu o seu tradicional showzinho (sempre contra o Medina). Reclamou, xingou, deu soquinho na água e pediu nota. 
Em sua última onda deu dois floaters de backside, 3 batidinhas, uma rasgada e uma batida na junção. Outra onda muito mais burocrática do que talentosa, e ganhou 7.80.
Ficou a impressão que o surf ultrapassado de CJ (nas merrecas, claro) foi mais valorizado, e que o Medina foi julgado não pelo que ele fez, mas pelo que ele poderia ter feito.  CJ escolheu ondas maiores e melhores, enquanto Medina fez uma escolha de ondas muito ruim. Mas analisando as manobras, fica difícil de dar a vitória ao CJ. O que foi valorizado nessa bateria? Floaters em trestles? A escolha de ondas? Ou talvez o Medina esteja sendo punido por causa de tanto choro e de tantas reclamações dele e de sua família?

ROUND 3
KELLY SLATER (14.80) X PATRICK GUDAUSKAS (14.80)
Patrick Gudauskas abriu a bateria com duas batidas de backside deslizando um pouco a rabeta, onde ficou até um pouco preso no lip, uma rasgada fraca e uma finalização também fraca (e não completa) e ganhou 8.50. Uma nota que a meu ver, parece ter saído mais pelos gritos da torcida do que pelas manobras.
Slater em sua primeira onda deu uma forte rasgada tailslide, um forte cutback e um air reverse na finalização, uma onda bem mais forte, mais radical e mais criativa que a onda de Pat Gudauskas, mas ganhou 7.70.
Slater em sua segunda onda pegou uma direita menor, mandou duas manobras fracas e finalizou com um pequeno aéreo na junção e marcou 7.10.
Gudauskas ainda pegou uma boa direita que começou com uma ótima primeira manobra, duas manobras funcionais e uma forte rasgada e marcou 7.07. Essa onda me pareceu melhor que a sua primeira onda, mas os juízes acharam que não.
O que foi valorizado nessa bateria? Os gritos da torcida local, que estava com Pat Gudauskas? Bem, talvez ter tirado Slater do evento tão cedo tenha mesmo colocado um pouco mais de tempero na corrida pelo título mundial de 2013. Mas o julgamento, eu não entendi.

ROUND 3
JULIAN WILSON (17.03) x FILIPE TOLEDO (16.07)
Filipe Toledo começou com uma onda pequena, mas de 7 manobras. Começou com um cutback, mandou uma batida, um forte rasgadão, um aéreo rodando, um tail slide, outra forte rasgada e finalizou a onda com um cutback. Marcou 8.17.
Julian em sua primeira nota mandou quatro rasgadas e finalizou com uma batida na junção. Uma onda bem pior que a 1ª onda do Filipinho, mas que valeu 7.93, uma nota muito próxima.
Filipe Toledo em sua 2ª onda pegou uma esquerda, mandou um bom aéreo rodando de backside já na primeira manobra e uma batida de backside e ganhou 7.90. Essa também foi uma onda melhor que a 1ª onda de Julian, mas ganhou somente 7.90.
Em sua última onda, Julian mandou um ótimo aéreo rodando de backside, duas rasgadas e duas batidas e levantou a galera na praia. Ganhou 9.10.
Julian talvez seja o cara que mais baterias ganhou de presente na história do surf moderno e casualmente, quase sempre contra surfistas brasileiros. É um ótimo surfista, um grande talento, mas tem recebido mais notas do que tem merecido. Sua última onda foi excelente, mas sua vitória foi mais um presente dos juízes.

Tiveram outras baterias de julgamento confuso, onde jornalistas e publico ficaram sem entender, mas vou ficar nessas.  

No Round 4 também fiquei na dúvida: Porque uma onda com 5 rasgadas pequenas de backside valem 7.83 (Kai Otton) e uma onda com uma forte batida, uma forte rasgada e um aéreo rodando no final valem só 6.90 (Mineiro)? Não discordo do resultado dessa bateria, mas essas ondas, por exemplo, tiveram um julgamento ridículo.

As vezes parece que nós, público, fãs e jornalistas, fazemos papel de bobo o perdendo tempo e noites inteiras para ver baterias e escrever sobre eventos onde o julgamento não parece ter muito critério nem muito sério. Juiz de surf não deveria ser um Cargo de Confiança, como é hoje. Deveria haver renovação. E o head judge não deveria ter tanto poder. Porque não acontece uma renovação no quadro de juízes da ASP? Porque os melhores juízes do WQS não sobem para op WCT e os piores do WT não caem? Panela é feio em qualquer esporte. 




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